
É absurdo pensar que num futuro ancestral, assim como foi entre os antigos ameríndios, nossos alimentos possam voltar a ser produzidos em ecossistemas mais diversos, totalmente contrários à monocultura que padronizou e dominou a cultura alimentar ocidental contemporânea?
Numa realidade paralela utópica em que a agroecologia seja a lógica e a agricultura urbana tenha florescido nos arranha céus e aterros das grandes megalópoles do mundo, certamente haverá um lugar como o Sítio Adalgisa e Manoel e seu projeto de Sistema Agroflorestal
Mais que uma reflexão apaixonada esse texto pretende mostrar de forma prática como se tem construído um projeto de futuro: uma floresta para aterrar carbono, proteger nascentes e produzir frutas nativas, e do mesmo modo explicar como através dessa iniciativa tem-se tecido redes orgânicas, inspiradas nas micorrizas, que enraizadas se comunicam e cooperam com o todo. Mais que uma descrição romântica em um cenário imaginário, esta é uma aventura real e fantástica em curso nas fronteiras da cidade, numa comunidade rural no extremo sul da capital paulistana.
Conheci a Luzia (a Lú) durante a pandemia, comercializando café produzido pela agricultura familiar, sem dúvida uma das minhas clientes mais ativas no período, nos conectamos por indicação de um amigo em comum e na primeira oportunidade me dispus a colaborar no projeto de bioconstrução de um galinheiro que estava acontecendo no sítio dela, desde então foram acontecendo tantas coisas que nao vou conseguir entrar no detalhe agora, mas em breve, o fato foi que a partir desse dia entendi o valor do trabalho que ela vinha realizando naquele espaço e naquela comunidade tão perto da minha casa e com o passar do tempo fui me alinhando com os propósitos do sítio, que de diferentes formas ajudava as pessoas do bairro. Com a devida abertura fui me apropriando do movimento que acontecia ali, aprofundando as relações com a comunidade e com os atores locais, com os projetos que ocasionalmente se somavam e com as enormes potencialidades de promoção da educação ambiental, de cultivo de alimentos saudáveis, de estímulo ao ecoturismo e desenvolvimento local sustentável e de produção de cultura, me encantei a ponto de alguns anos depois me mudar para o sítio e apesar de nao mais residir lá, ainda me sinto parte daquela terra sagrada, sempre território indígena e de proteção às nascentes, hoje localizada na APA Capivari Monos.

A permacultura nos ensina a valorizar as bordas e no sítio temos um curso d’água que divide o vale, de um lado uma pequena floresta nativa e do outro um grande morro onde até há pouco tinha somente capim crescendo, herança das décadas em que o espaço ficou desocupado, justamente nesse ponto do nosso mapa existe uma mina d’água e com a intenção de reflorestar a área em torno dessa nascente e criar o microclima ideal para o cultivo de uma espécie frutífera endêmica da região, o cambuci, e ainda buscando colaborar de forma eficiente com o sequestro de carbono, sendo nossa região uma das últimas ilhas de áreas verdes da cidade de São Paulo e estratégica para atuar no combate às crises climáticas, decidimos nesse início de fevereiro, após muito estudo e diálogo, depois de anos de pré-produção, fazer nosso primeiro mutirão da SAF do Futuro, esta foi acao fruto de um trabalho em rede, coordenado glocalmente, ou seja, a partir do nosso microcosmo no sítio e em conexão direta com pessoas e organizações descentralizadas de diferentes regiões do Brasil e até do mundo que contribuíram ativamente, foi muito bonito e emocionante.
Como parte do processo desenvolvido com a rede cripto dos guardiões de agroflorestas, a AgroflorestDAO era a inscrição em um concurso na plataforma Gitcoin, inscrevemos a SAF do Futuro no Sítio Adalgisa e Manoel com um projeto para iniciar a implantação da agrofloresta e mapear outros espaços no entorno que também estivessem desenvolvendo projetos semelhantes. Veja o projeto aqui.

Com este recurso pudemos investir nas 31 mudas de árvores frutíferas que ao longo desse ano serão plantadas nesse processo de reflorestamento, que contou com algumas alterações em decorrência da necessidade de manejo para potencializar o sequestro de carbono, entre as mudas adquiridas estão: Uvaia, Pitanga, Cambuci, Jabuticaba, Cereja do Rio Grande, Aracá, Grumixama, uma araucária…
A rede Green Pill Brasil com sua ampla comunidade e parceiros tais como como a Regen Coodenation, Octant, também foram essenciais disponibilizando recursos para realização desta acao para o bem publico e para o meio ambiente.
Além disso, pudemos contar e gostaríamos muito de agradecer o apoio de cada uma das pessoas que se engajaram no processo e que se inscreveram para participar, que disponibilizaram seus recursos e seu tempo para esse ato coletivo de apoio mútuo e resistencia frente um mundo cada vez mais individualista.
Esta experiência também foi uma demonstração de como pessoas, projetos e organizações descentralizadas e com urgências de regeneração socioambiental, podem independete de mineradoras, construtoras, latifundiários, das big techs, dos ecocidas e do estado de exceção que se uniram para para manter o mundo e tempo imóveis, foi um relato sobre levantar a enxada e agir, ainda que de modo pequeno e local, mas em rede e inspirando outras iniciativas ao redor do globo.








Sobre a Green Pill Brasil
Energizada sob os paradigmas que cosubstanciam o Protocolo Ciber Cultural ReRe, a Green Pill Br (Pílula Verde) integra a rede de ReFi (Finanças Regenerativas), é uma comunidade Web3 que opera com base em descentralização, bens públicos, protocolos abertos e governança descentralizada. Seu objetivo é gerar impacto socioambiental positivo e promover a regeneração, utilizando blockchain para registrar interações. Essa tecnologia garante rastreabilidade através de um sistema seguro e transparente, onde os dados são estruturados em cadeias de blocos.
Através da economia cripto suas propostas comunitárias vem subsidiando projetos de agrofloresta em diferentes lugares do Brasil e se articulando com pessoas e movimentos para prestar apoio em situações de crise climática
Conheça mais sobre a Green Pill Br AQUI
No dia da atividade apesar do clima quente lindo e exuberante e dessa narração empolgada, nossa ação não foi nada espetacular, ao contrário foi reckeada da simplicidade das pequenas coisas, como o trabalho de quem semeia o campo para viver, depois de um café reforçado e delicioso, especialmente preparado pela Vera, após o primeiro momento de alinhamento, nos dividimos em grupos: Um para preparar a área e realizar o plantio e outro para o preparo da tinta de terra com a qual a casa foi pintada depois do almoço vegano, caprichado feito pelo Hugo, fomos até anoitecer nessa lida, foi muito bom e vai ter muito mais, aguardem as cenas dos próximos capítulos, rs, o próximo passo, do que já foi plantado será continuar inserindo plantas companheiras para que se desenvolvam em conjunto, nas linhas que foram abertas vamos fazer consórcio em ciclos sazonais, se quiser acompanhar de perto ou saber mais, entender como participar e colaborar mesmo à distância com essa aventura, é só enviar uma mensagem aqui pelo blog ou por nossas redes sociais. Através deste projeto, você poderá apoiar e fazer parte da rede de suporte dessa e de outras atividades que acontecerão ao longo de 2025. (vamos divulgar os prazos abertos para doação)
Apesar do textao esta história está só no comeco, ao longo dos próximos anos vamos acompanhar o crescimento dessa mata e continuar escrevendo essa crônica que seguirá autônoma para o futuro, com isso esperamos, não como quem aguarda, mas como quem esperança, engajar toda essa comunidade para reflorestar suas áreas, adotar um plantio agroecológico, sintrópico e a repensar o uso de venenos e defensivos tóxicos em seus cultivos, apreciar e a proteger esse último reduto verde com árvores e rios nos lembrando quem somos em meio ao concreto cinza.











